PINTURAS RUPESTRES NO NORTE DE MOÇAMBIQUE



ARTE RUPESTRE NO NORTE DE MOÇAMBIQUE
Tipologias e Estações Arqueológicas
Por: Artur S. S. Senhor[1]

Introdução
Desde o seu surgimento, o homem teve a necessidade de se comunicar mesmo antes do surgimento da escrita. As pinturas rupestres fazem parte destes meios de comunicação deixados pelo homem pré-histórico, e a semelhança de outros continentes em África, Moçambique e em Nampula em particular há existência destes vestígios.
Localizada no norte de Moçambique, Nampula é uma das províncias Moçambicanas que preserva vestígios da presença do homem antes da nossa era, e estes podem ser encontrados em várias grutas da província. Este estudo foi desenvolvido em três Sítios arqueológicos com pinturas rupestres nomeadamente: Nacuaho - no distrito de Meconta, Malodge em Murrupula e Muzé localizado na localidade de Muzé no distrito de Ribaué.
As pinturas rupestres fazem parte do Património Cultural Moçambicano as quais são protegidas pelo estado, a Lei 10/88 de 22 de Dezembro aprovada pela Assembleia Popular que preconiza a identificação, o registo, a preservação e a valorização de todos os bens patrimoniais e culturais do país. A lei tem como objectivo a protecção legal dos bens materiais e imateriais do Património Cultural. Com este estudo pretende-se contribuir para preservação e valorização desta categoria de Património Cultural.   
A Província de Nampula possui um vasto e rico Património Cultural, desde fortalezas, museus, catedrais, sítios arqueológicos com Pinturas Rupestres, entre outros. Esta possui aproximadamente 9 (nove) sítios arqueológicos identificados com pinturas rupestres, maior parte deles com pouco conhecimento por parte dos órgãos representativos da Província, e por parte das autoridades responsáveis em velar pela preservação deste Património.
Enquadramento
Os sítios arqueológicos com Pinturas Rupestres fazem parte do Património Cultural do país, estes são responsável pela transmissão de valores culturais, hábitos e costumes de geração em geração sendo imprescindível a divulgação de toda informação sobre este Património Cultural A sua preservação tem merecido especial atenção por parte do Governo, por este motivo foi aprovado pela Lei no 10/88 a Lei de Protecção Cultural que determina a protecção legal dos bens materiais e imateriais do Património Cultural Moçambicano.
Mais do que locais que protegem vestígios da passagem do homem os sítios arqueológicos com Pinturas Rupestres são locais que preservam o progresso cultural da humanidade, evoluções tecnológicas, religiosas, espirituais. Devido a existência de vários sítios arqueológicos com pinturas rupestres o presente artigo se limita em apenas 3 (três) sítios arqueológicos com pinturas Rupestres nomeadamente: Muzé, e Nacuaho.

Características e materiais usados nas pinturas rupestres
A pintura rupestre é, sem dúvida, a forma de arte mais relevante da pré-história, na fase inicial as pinturas apresentavam silhuetas de animais, definidas por linha de contorno, na última fase deste período as figuras têm já um elevado grau de rigor passando a dominar atitudes, movimentos e gestos cada vez mais difíceis de representar e com grande beleza expressiva. RAMOS, ett all (1998:194)
Segundo Proença (2008:11), A principal característica dos desenhos da idade da pedra lascada, nome pelo qual também é conhecido o paleolítico superior, é o naturalismo o artista pintava os seres, um animal por exemplo do modo como a via de uma determinada perspectiva, reproduzindo a natureza tal qual sua vista captava.
Kizerbo (751:2010), falando acerca da origem das tintas, diz que as cores eram constituídas de algumas cores básicas: o vermelho e o marrom, provenientes do ocre tirado do óxido de ferro; o branco, obtido a partir do caulim, do excremento de animais, do látex ou de óxidos de zinco: o preto, extraído do carvão vegetal, de ossos calcinados e triturados ou da fumaça e da gordura queimada. Alem dessas cores eram utilizadas também o amarelo, o verde e o violeta, etc.
Ídem, referindo-se da variedade de matérias usados, diz que as pinturas são monocromáticas ou policromadas, conforme o caso. No baixo Mertoutek, era usado o caulim roxo; no abrigo da face sul do Enneri Blaka, o caulim ocre vermelho de tipo sanguíneo; em outros locais, uma paleta furta cor com uma tal combinação de tons que era capaz de recriar as condições e o equilíbrio da realidade.
Pinturas Rupestres Mundiais
Actualmente as principais cavernas que preservam as Pinturas Rupestre são: a caverna de Altamira (Espanha) (Fig.1) de Lascaux, Font-de-Gaume, Niaux, (França), e Tassili (região do Saara - Argélia) (Fig.4) estas cavernas são consideradas museus naturais da Arte Rupestre.

Fig.1.Pintura Rupestre de Altamira (Espanha)[2]

Em África também encontram-se cavernas em que pode-se verificar a ocorrência da arte rupestre,), destacam-se as na Argélia o sul Oranês, o Tassiln (Fig.2) Ajjer (Jabbarem, Sefar, Tissoukai, Djanet, etc.), no sul do Marrocos, no Fezzan (Líbia), no Air e no Tenere (Niger), no Tibesti (Chade), na Núbia, no maciço da Etiópia, no DharTichitt (Mauritânia), em Moçâmedes (Angola).
Fig.2.Pintura Rupestre de Tassili (Argélia)[3]

Assentamentos de Pinturas Rupestres em Moçambique
Em Moçambique também há registos das pinturas rupestres, nas províncias de Nampula, Manica, Tete, Niassa, a Pintura Rupestre moçambicana mais conhecida é a de Chinhamapere localizada na serra Vumba na Província de Manica, segundo (Jopela. Ett all, 2014:46), ela aparece em revistas e artigos a desde o período colonial até ao presente, constando na lista indicativa da UNESCO de candidatura de Bens para classificação com Património Mundial: Lista indicativa de 1990 e lista indicativa de 2009.
                                   Fig.3.Pintura Rupestre de Chinhamapere (Manica)
 Fonte:http://1.bp.blogspot.com/_HFAo9aLWHsE/S04Ea4HRhAI/ h/Manica1.jpg

Pinturas Rupestres da Província de Nampula
A Província de Nampula tem aproximadamente nove (9) sítios arqueológicos com pinturas rupestres, porém apenas 6 foram inventariadas nomeadamente: Rupestres de Nacuaho no distrito de Meconta, Pinturas Rupestres de Namulepia no distrito de Monapo, Pinturas Rupestres de Muzé no distrito de Ribáuè, Pinturas Rupestres de Cuirine no distrito de Ribáuè, Pinturas Rupestres de Riane no distrito de Eráti, e as Pinturas Rupestres de Malodge

Malodge
Localizam-se no distrito de Murrupula, cerca de 40km da sede do distrito, 13 km do lado direito Murrupula - Nampula, encontra se uma caverna aberta, de difícil acesso, é possível encontrar linhas e signos.
Fig. 4. Serrade Malodje (Murrupula - Nampula)

Pinturas Rupestres de Muzé
Localiza-se no posto administrativo de Iapala 60 km do distrito de Ribáuè, linhas, animais são algumas das figuras que podem verificar.
Fig.5.Serra de Muzé (Ribaué - Nampula)

Pinturas Rupestres de Nacuaho no distrito de Meconta
As pinturas Rupestres do abrigo rochoso de Nacuaho, foram identificadas pelo arqueólogo português Rodolfo dos Santos Júnior em 1940. Localizada na localidade Nassuruma, no distrito de Meconta, dista a 14 km da sede do distrito, 10 km do posto administrativo de Nacavala, 2.5 Km da EN8 ao lado direito de Nampula-Nacala.  
Fig.6.Serra Nacuaho (Meconta-Nampula)

Tipologia das Pinturas Rupestres
Cuevillas classificou a tipologia das pinturas rupestres de acordo com as características observadas nas pinturas rupestres existentes no noroeste Hispânico em 27 (vinte e sete) categorias nomeadamente:
·       Signos alfabetiformes;
·       Figuras humanas esquemáticas;
·       Ídolos esquemáticos;
·       Figuras idoliformes constituídas por elipse e por círculos;
·       Esquemas idoliformes quadrados ou rectangulares;
·       Figuras humanas estilizadas;
·       Figuras humanas muito estilizadas;
·       Signos esoutiformes;
·       Figuras zoomorfas;
·       Figuras estilizadas de cavalos e outros animais indeterminados;
·       Combinações circulares;
·       Espirais;
·       Signos soliformes;
·       Serpentiformes;
·       Signos hasciformes;
·       Signos escaleriformes;
·       Figuras em forma de espada;
·       Figuras em forma de cilindro;
·       Figuras de carro;
·       Signos arboformes;
·       Signos svaticos;
·       Signos em forma de pala;
·       Linhas rectas;
·       Linhas quebradas paralelas;
·       Trilhas de pisadas;
·       Correntes;
·       Figuras alargadas.


 Classificação Tipológica das Pinturas Rupestres assentadas na Província de Nampula
A classificação tipológica das figuras, símbolos e signos representados pelos habitantes pré-históricos é uma tarefa difícil de cumprir de um modo correcto ou eficaz, pela quantidade e complexidade de formas, muitas das quais escapam de qualquer intento de reduzi-las em um sistema seja de símbolo ou figuras e também em ocasiões por não se perceber se são traços produto da casualidade dos antigos ou da mão do homem moderno, não são identificados se são vestígios de elementos semidesaparecidos ou se são signos completos, se os traços são apenas dos habitantes pré-históricos, ou do homem moderno.
Assim sendo é imprescindível que sejam feitos análises laboratoriais para que se prove a autenticidade das PR, se são realmente vestígios deixados pelos nossos antepassados, a que período da história pertencem, que materiais foram utilizados para representação das figuras. De todas formas, descreveu-se uma série de características tipológicas observáveis nos sitos estudados tendo como base as características propostas Cuevillas.
As PR, assentes na Província de Nampula, apresentam as seguintes características tipológicas: Signos fusiformes; figuras alargadas; figuras idoliformes constituídas por elipse e por círculos; linhas paralelas quebradas; linhas rectas paralelas, figuras estilizadas de cavalos e outros animais não determinados e figuras zoomorfas.
  1. Signos fusiformes
Pintados nas paredes das grutas, os signos fusiformes apresentam um formato de fuso com duas linhas paralelas no interior dela, pintados da cor vermelha, é são observados nas Pintuas Rupestres de Nacuaho e Muzé
 Fig.7. Pintura Rupestre de Nacuaho                                        Fig. 8. Pintura Rupestre de Malodje

Apesar de terem sido representados em sítios arqueológicos com Pintuas Rupestres diferentes nota-se uma semelhança, entre os signos pintados nas Pintuas Rupestres de Nacuaho (a esquerda), e nas de Malodge (a direita), assim sendo entende-se que a Pintuas Rupestres Nacuaho as (pintada a vermelho) foram feitas no mesmo período com as de Malodge.

  1. Figuras alargadas
As figuras aprestam um traço aprimorado, nelas observam-se a representação humanas com os membros inferiores e a coluna vertebral muito alongadas, e os membros inferiores são relativamente muito curtos.
Fig.9. Pintura Rupestre da localidade de Muzé (Ribaué - Nampula)

Dos sítios arqueológicos com Pintuas Rupestres estudados, esta característica verifica-se nas Pintuas Rupestres de Muzé, conforme referido, esta encontra-se muito preservada.

  1. Figuras idoliformes constituídas por elipse e por círculos
Esta é uma das características que se podem encontrar do que restou da pintura original nas Pintuas Rupestres de Nacuaho, nesta característica, observa-se o naturalismo da forma.  
Fig.10. Pintura Rupestre da Nacuaho (Meconta - Nampula)

d . Linhas paralelas quebradas
Observa-se nas Pintuas Rupestres de Nacuaho as as linhas são paralelas, porem apresentam um interrupção, diferentemente das linhas paralelas observadas nas Pintuas Rupestres de Malodge .
Fig.11. Pintura Rupestre da Nacuaho (Meconta - Nampula)

  1. Linhas Paralelas
Aparecem em ocasiões soltas outras conjugadas com diferentes figuras e em outras vezes as linhas aparecem no sentido perpendicular.
        

 Fig.12. Pintura Rupestre da localidade de Malodje (Murrupula - Nampula)

  1. Figuras estilizadas de cavalos e outros animais não determinados
Nas suas representações, conforme acima mencionado, o homem pré-histórico representou basicamente o seu quotidiano, as figuras de estilizadas de cavalos e outros animais não determinados faziam parte do seu dia-a-dia por este motivo, estas representações aparecem conjugadas às figuras humanas.
         Fig.13. Pintura Rupestre da localidade de Muzé (Ribáuè - Nampula)

  1. Figuras zoomorfas
As figuras zoomorfas com forme o nome, apresentam formas de animais, esta característica é observada nas Pintuas Rupestres de Nacuaho.
Fig.14. Pintura Rupestre da Nacuaho (Meconta - Nampula)

Síntese
As Pinturas Rupestres assentem na Província de Nampula em particular as apresentadas neste artigo, apresentam algumas das características propostas por Cuevillas sobre as Pinturas Rupestres do Noroeste Hispânico. Nas Pinturas Rupestres de Nacuaho observam-se as figuras zoomorfas, linhas paralelas quebradas, Figuras idoliformes constituídas por elipse e por círculos e signos fusiformes, é provável que hajam mais características devido predominância de pigmentos brancos que abundam nestas Pinturas dificulta a perceção das figuras representadas pela cor vermelha, nas Pinturas rupestres de Malodge observam-se as linhas paralelas e signos fusiformes. Figuras estilizadas de cavalos e outros animais indeterminados, e figuras alargadas são as características que se podem observar nas Pinturas Rupestres de Muzé.
A documentação das Pinturas Rupestres é um dos aspectos a considerar para a valorização é a divulgação das Pinturas Rupestres, com a pesquisa notou-se o défice de conteúdo local relacionado com as Pinturas Rupestres, este défice pode ser associado a vários factores um dos quais é a falta de vontade Politica para a contribuição para valorização do Património Cultural em particular as Pinturas Rupestres.

ANEXO
Mural da Pintura Rupestre da Nacuaho (Meconta - Nampula)

Mural da Pintura Rupestre de Malodje (Murrupula - Nampula)

Mural Pintura Rupestre de Muzé (Ribaué - Nampula)

Referências Bibliográficas
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BARDIN, L. (2009). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70
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IVALA, Adelino Zacarias, Orientações para elaboração de projectos e monografias científicas, Universidade Pedagógica, 2007.
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MARCONI Marina de Andrade, LAKATOS Eva Maria Fundamentos de metodologia científica  5a ed. São Paulo : Atlas 2003.
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PROENÇA, Graça, Historia da Arte, 16a-ed. São Paulo, 2008.
RAMOS, Elza, PORFIRIO, Manuel, ROSMANINHO, Maria, Natália, Educação Visual ensino básico 7ano 1 edição 1998 ASA 223.
Artigos
CUEVILLAS F. Lopez. Sobre el arte rupestre del noroeste, hispánico y una hipótesis sobre la cronología de alguno de sus tipos.
MANZINI, E. J. A entrevista na pesquisa social. Didática, São Paulo, v. 26/27, p. 149-158,
1990/1991
Lei 10/88 de 22 de Dezembro.

Endereços Electrónicos
Aplicativos
Novo Dicionário Electrónico Aurélio versão 5.0




[1] Docente da Universidade Pedagógica  - Delegação de Nampula
[2] Fonte: http://www.arteespana.com/imagenes/altamira.jpg
[3]   Fonte: http://www.viajejet.com/wp-content/viajes/fotos-de-argelia-pinturas-rupestres-de-tassili-najjer.jpg