A CIVILIZAÇÃO ROMANA
Civilização Romana
Roma
desenvolveu-se na península Itálica, região de solo fértil, com a costa pouco
recortada, limitando-se ao norte com a Europa centro-ocidental através dos
Alpes.
Quando Roma foi fundada, a Península Itálica era ocupada pelos gauleses,
ao norte; pelos etruscos-latinos, ao centro, e pelos gregos, ao sul a magna
Grécia. Desses povos, os mais importantes para a formação de Roma foram os
latinos, habitantes do Lácio, que viviam divididos em várias tribos, e os
etruscos, habitantes da Toscana (Etrúria).
Roma foi fundada no Lácio, por volta do ano 1000 a.C. Ao
que tudo indica, foi inicialmente um centro de defesa latino contra os ataques
constantes dos etruscos. Tem-se, todavia, a versão lendária da fundação de
Roma, contada na obra Eneida, pelo poeta romano Virgílio, segundo a qual
Enéias, príncipe troiano filho de Vénus, fugindo de sua cidade, destruída pelos
gregos, chegou ao Lácio e se casou com uma filha de um rei latino.
Seus descendentes, Rómulo e Remo, foram jogados por
Amúlio, rei de Alba Longa, no Tibre. Mas foram salvos por uma loba que os
amamentou, tendo em seguida sido encontrados por camponeses. Conta ainda a
lenda que, quando adultos, os dois irmãos voltaram a Alba Longa, depuseram
Amúlio e em seguida fundaram Roma, em 753 a.C. Após desentendimentos,
entretanto, Rómulo matou o irmão e se transformou no primeiro rei de Roma.
A Monarquia (da fundação até 509
a.C.)
A documentação desse período é precária, e até mesmo os
nomes dos reis são desconhecidos, citando-se apenas os reis lendários,
apresentados nas obras de Virgílio e Tito Lívio.
Durante esse período, o rei acumulava as funções
executivas, judicial e religiosa, embora seus poderes fossem limitados na área
legislativa, já que o Senado, ou Conselho dos Anciões, tinha o direito de veto
e sanção das leis apresentadas pelo rei. A ratificação dessas leis era feita
pela Assembleia ou Cúria, composta por todos os cidadãos em idade militar. Na
fase final da realeza, a parir do fim do século VII a.C., Roma conheceu um
período de domínio etrusco, que coincidiu com o início de sua expansão
comercial.
No período monárquico, a sociedade romana estava dividida
praticamente em três classes:
- Patrícios: cidadão de Roma possuidores de terra e gado, constituintes da aristocracia.
- Plebeus: parcela da população que passara para o domínio romano durante as primeiras conquistas; eram livres, mas não participavam do Senado, nem podiam formar famílias legalmente reconhecidas.
- Escravos: população recrutada entre os derrotados de guerra, considerados instrumentos de trabalho, sem nenhum direito político.
A República (de 509 a.C. a 27 a.C.)
Em 509 a.C., o rei Tarquínio, o Soberbo, de origem
etrusca, foi derrubado por uma conjuração patrícia do Senado, que queria por
fim à interferência real no poder legislativo. Tarquínio governava de forma
despótica, anulando, desse modo, os anseios patrícios de participação política.
Dava-se assim, o fim da realeza romana, e em seu lugar surgia uma nova
estrutura administrativa, na qual o poder do Senado sobrepunha-se aos demais.
O senado, transformado em órgão máximo da república,
controlava toda a administração, as finanças, alem de decidir pela guerra ou
pela paz. Que somente os patrícios tinha-o acesso a esse órgão legislativo. O
poder executivo, por sua vez, ficava a cargo das seguintes magistraturas.
- Cônsules: em número de dois eleitos pela assembleia centurial pelo período de um ano, propunham leis e presidiam o senado e as assembleias.
- Pretor: administrava a justiça.
- Censor: cabia lhe fazer o censo da população; o critério usado era a rendar do cidadão, que lhe fornecia os dados para elaborar o álbum senatorial, isto é, a lista dos senadores.
- Edil: era encarregado da conservação da cidade, do policiamento, do abastecimento etc.
- Questor: cuidava do tesouro público.
- Ditador: em épocas de graves crises como calamidades e guerras, era escolhido um ditador pelo período máximo de 6 meses, que governava com plenos poderes.
As funções religiosas cabiam a um conselho de pontífices.
Existiam ainda três assembleias, complementando as instituições políticas
republicanas:
- Assembleia centurial: a mais importante delas, era dividida em centúrias isto é em grupos de centuriões, cuja função era votar os projectos apresentados. Havia 98 centúrias patrícias e 95 plebeias, e como o voto aos projectos era contado por centúria, a aristocracia controlava as decisões.
- Assembleia curial: examinava os assuntos religiosos.
- Assembleia tribal: nomeava os questores e os edis.
A grande parcela da sociedade romana, durante a
república, era constituída pelos plebeus, que viviam marginalizados
politicamente, mesmo que enriquecessem através do comércio. Quando um plebeu
por exemplo, tornava-se insolvente, sem condições de pagar suas dívidas, tinha
de se submeter ao nexum, instituição que colocava o devedor subordinado ao
credor ate a total extinção da divida, criando-se um servidão que chegava a
durar toda uma vida. A marginalização e o descontentamento levarão a lutas de
classe em Roma.
Em 494 a.C., os plebeus, em sinal de protesto, se
retirarão para monte sagrado, exigindo representação política. Como sua participação na economia e no exército de Roma
era de extrema importância, os patrícios concordaram em atender aos plebeus,
que ganharão representação através de dois tribunos da plebe (em 471 a.C.
passaram a ser dez). Os tribunos tinham direitos a veto e eram considerados
intocáveis. Em 450 a.C., após outras revoltas plebeias, os patrícios
convocarão os decênviros, dez juristas nomeados para redigir um código de leis.
O resultado foi a elaboração da lei das doze tábuas, primeira complicação
escrita das leis romanas.
Em 367 a.C., foram adoptadas as leis Licínias, que
possibilitaram aos plebeus partilhar as terras conquistadas, alem de
estabelecer que um dos cônsules seria sempre um plebeu. A lei canuléia também
favoreceu os plebeus, pois permitiu o casamento entre estes e os patrícios. Acabaram-se
as distinções sociais tradicionais, mais mantinha-se a distinção
económico-militar, entre ricos e pobres, altas patentes e simples soldados. Um
dos factores que permitiram manter essa situação foi o nacionalismo surgido com
as guerras e a expansão territorial.
A Expansão Romana
Do século V ao III a.C., Roma empenhou-se em conquistar a
península Itálica devido a necessidade de obter géneros para o abastecimento
essencial, bem como de pôr fim as ameaças de invasão dos povos da região.
Em 272 a.C., Roma alcançou o extremo sul, conquistando
Tarento, na região da Magna Grécia. “Calcula-se que, no século IV (a.C.), os
exércitos romanos tenha-o reduzido a escravidão cerca de 40 mil indivíduos. Nos
séculos seguintes, o número de cativos capturados pelas legiões romanas não
cessou de crescer”. (MAESTRI FILHO, Mário José obra citada, p.38.)
Embora tivesse conquistado a península Itálica, a
Hegemonia cartaginesa no mediterrâneo impedia a expansão romana na região. A
cidade Fenícia de Cartago, com 250 mil habitantes, localizava-se ao norte da
África, mas possuía inúmeras colónias na Córsega, sardenha, Cecília e península
Ibérica. A disputa pela posse da Cecília originou guerras entre Roma e Cartago
que se estenderam de 264 a 146 a.C. e ficaram conhecidas como guerras púnicas.
Os romanos viveram momentos de grande tensão quando o
General Cartaginês Aníbal atravessou Gibraltar, os Pirenéus e os Alpes para
atacar Roma, embora não tenha obtido sucesso e tenha sido obrigado a regressar
a Cartago. Aníbal foi derrotado em Zama, ao sul de Cartago, pelo General Romano
Cipião, o africano. Em 146 a.C., entretanto, Roma conseguiu arrasar
definitivamente Cartago, dizimando sua população, e continuou sua expansão,
tomando todo o mar mediterrâneo, e passou a chamar-se de maré nostrum (nosso
mar).
Outras conquistas romanas foram, no oriente, a Macedónia
(197 a.C.), a Síria (189 a.C.), a Grécia (146 a.C.) e o Egipto (30 a.C.), e no
ocidente, a península Ibérica (133 a.C.) e a Gália Transalpina (55 a.C.). Durante o período de conquistas, a sociedade romana
transformou-se profundamente devido ao clima imperialista que subsistia,
favorecendo o modo de produção escravista, que se efectivou a derrota de
Cartago.
Às causas das mudanças sociais deveram-se:
- Ao grande afluxo de riqueza para Roma, proveniente das conquistas;
- A ruína do pequeno lavrador, impossibilitando de concorrer os latifúndios trabalhados por escravos;
- Ao aumento da escravidão;
- Ao êxodo rural, gerando a proletarização da plebe;
Ao surgimento de novas classes sociais: camada senatorial
(aristocratas), classe equestre (mercadores, banqueiros ou homens novos),
clientes (agregados, dependentes dos patrícios) e proletários (plebeus
miseráveis, cuja única posse era uma prole numerosa).
“A intervenção de Roma nas trocas mediterrâneas
permitia-lhe obter cativos estrangeiros, uma das principais mercadorias daquele
comércio. A opção pela alternativa escravista -instituição há muito dominante
em inúmeras regiões da Grécia - era, para as classes senhoriais romanas, uma
solução historicamente factível a expressões crescentes dos seguimentos
plebeus”. (MAESTRI FILHO, Mário José obra citada, p.39).
Em 326 a.C., aboliu-se a submissão servil por dívidas, o
que tornou a mão-de-obra escrava (os vencidos) de importância vital para a
produtividade rural da elite romana. A ampla utilização da mão-de-obra escrava,
entretanto, trouxe ao Estado romano inúmeras rebeliões de cativos, entre as
quais a mais significativa foi comandada pelo trácio Spartacus de 73 a 71 a.C.,
que chegou a ameaçar a própria cidade de Roma, 74 gladiadores refugiaram-se
próximo ao vulcão Vesúvio, onde reunirão mais de 120 mil soldados.
A revolta comandada por Spartacus foi o ultimo grande
movimento escravo conhecido por Roma. Os senhores romanos, no império (a partir
de 27 a.C.), desenvolverão verdadeiro programa ideológico e repressivo, a fim
de prevenir sublevações escravas. O que, de nenhum modo impediu pequenas e
medias conspirações tenha-o ocorrido nos primeiros séculos de nossa era. “
(MAESTRI FILHO, Mário José. Obra citada, p. 54-55)
As Lutas Civis
Frente a crise geral por que passavam os pequenos
agricultores, alguns grupos mobilizaram-se na busca de reformas. Destacaram-se,
nesse período, dois tribunos da plebe, Tibério e Caio Graco.
Tibério eleito o tribuno da plebe em 133 a.C., propôs uma
lei pela qual quem tivesse mas de 310 acres de terras deveria doar o excedente
para o Estado, afim de que este as arrendasse aos cidadãos pobres. O senado
opôs-se a tais medidas e, numa tumultuada sessão no recinto do próprio senado,
Tibério e mais de 300 de seus adeptos foram assassinados.
Plutarco fez, no plenário, o seguinte comentário sobre a
atitude de Tibério:
“Tibério Graco, o tribuno adepto de uma lex agrária,
denunciou o empobrecimento dos pequenos camponeses: os Homens que combatem e
morrem pela Itália têm o ar e a luz, mas e mais nada. Lutam e perecem para
sustentar a riqueza e o luxo de outros, mais embora sejam chamados senhores do
mundo, não têm um único torrão de terra que seja seu”. (ANDERSON, Perry. Obra
citada, p. 60).
Caio Graco foi eleito o tribuno em 123 a.C., dez anos
depois do assassinato de seu irmão Tibério. Caio determinou leis para melhorar
as condições de vida da Plebe como a lei frumentária, que determinava a
distribuição de trigo a baixo preço aos plebeus, alem da reforma agrária.
Os aristocratas reagiram contra Graco e seus seguidores,
o que resultou em vários confrontos armados, ate que, cercado numa das colinas
romanas, Caio ordenou a um escravo que o matasse. E o escravo suicidou-se em
seguida. Após a morte dos Gracos, houve a polarização política, e
a república romana entrou em crise. De um lado estava-o os aristocratas,
preocupados com a manutenção da ordem existente; de outro, os populares,
ansiosos por reformas. Destacaram-se nesse período o General Mário, defensor da
plebe, e o General Silas, que defendia os conservadores.
Mário chegou a ser eleito cônsul por seis vezes
consecutivas, conseguindo transformar o exército, cujos postos eram privilégio
dos cidadãos, em um exército popular composto por assalariados. Os soldados
passaram a receber um soldo, participação nos espólios e, ao cabo de 25 anos de
carreira, direito a um pedaço de terra. Com a morte de Mário, 86 a.C., Silas
estabeleceu uma ditadura militar e perseguiu violentamente os antigos
seguidores de seu antecessor, conseguindo desarticular os grupos políticos
populares.
Em 79 a.C., Silas,
já velho abdicou, e o período que se
seguiu foi de aparente calma, pois novos líderes aristocráticos, como Pompeu e
Crasso deportavam. Pompeu conseguiu abafar na Espanha uma revolta popular
comandada por Sertório (78-72 a.C.), enquanto Crasso abafou a revolta dos
escravos (73-71 a.C.) liderado por Spartacus, em cápua. O prestígio militar
alcançado pelos dois generais aproximava-os da política, na qual já se
destacava Júlio César. O clima de insatisfação perdurava e houve nova tentativa
de golpe político, dessa vez de um Patrício, Catilina tencionava tomar o poder
e assassinar os magistrados. Essa conjura foi delatada e evitada por Cícero,
destacado orador, eleito cônsul.
Os cidadãos de Roma disputaram o controlo do Estado,
activando a instabilidade política que caracterizou o final da República
Romana.
Os Triunviratos
Em 60 a.C., o senado acabou elegendo três fortes líderes
políticos ao consulado:
Júlio César, Pompeu, e Crasso governaram juntos no
chamado primeiro triunvirato dividindo entre si os domínios romanos.
Contudo, em 54 a.C., Crasso morreu combatendo na Pérsia
e, dois anos depois, Pompeu foi proclamado cônsul único destituindo César do
comando militar da Grália. ao receber a mensagem senatorial de sua destituição
César, resolveu lutar e dirigiu-se para Roma, causando a fuga de Pompeu. César
assume imediatamente o poder romano, mas só iria derrotar Pompeu em 49 a.C.
Nessa época, crescia no Egipto a disputa pelo poder entre
farão Ptolomeu e sua irmã Cleópatra. Júlio César foi para Alexandria, apoio
Cleópatra e colocou-a no poder. Em seguida dirigiu-se à Ásia menor, onde
aniquilou as tropas sírias inimigas.
Retomando a Roma, Júlio César foi proclamado ditador
vitalício, em clara posição ao senado, que organizou uma conspiração contra
ele. Em 44 a.C., foi assassinado a punhaladas em pleno senado. Sua morte gerou
uma grande revolta na população, facto habilmente explorado por Marco António,
um dos fortes Generais de Júlio César que, juntamente com Octávio e Lépido,
formou o segundo triunvirato. Após eliminarem os opositores de César, os novos
triúnviros iniciaram suas disputas internas. Octávio, aproveitando-se da
ausência de Marco António, que se encontrava no Egipto, tentou ampliar seus
poderes. Desconsiderou Lépido e declarou guerra a Marco António, o qual foi
derrotado na batalha naval de actiun, em 31 a.C.
Octávio recebeu do senado o título de princeps (primeiro
cidadão), primeira etapa para obter o título de imperador (o supremo). Octávio
tornou-se progressivamente o senhor absoluto de Roma, recebendo, alem dos dois
títulos, o de augustus (o divino).
O Império (de 27 a.C. a 473 d.C.)
Com o advento do Império, reorganizou-se a estrutura
política romana, concentrando-se toda a autoridade nas mãos do imperador. Esse
último período apresenta duas etapas distintas:
O alto império (século 1 a.C. a século III d.C.) e o
baixo-império (século III a século V).
Roma atingiu seu apogeu, durante o alto império, devido
ao desenvolvimento sem precedentes do modo de produção escravista e as
conquistas territoriais, alcançando riqueza e poder como nenhuma outra
civilização.
Ao imperador, como supremo mandatário, cabia exercer
totalmente o controle político, sobrepondo-se ao senado. A ele competia nomear
magistrados, controlar os exércitos, interferindo, ate mesmo, nas questões
religiosas. ˶O estabelecimento do império, na verdade, foi a solução política
encontrada para assegurar a estabilidade do poder e anular os conflitos
existentes entre as várias facções (FLORENZANO, Maria Beatriz B. obra citada,
p. 84)
Administrativamente, foi criada uma nova estrutura, que
visava modificar desde a forma de tributos ate a convocação de homens para o
exército. O funcionalismo público foi ampliado, sendo o consequente aumento de
despesas coberto pelos crescentes fluxos de riquezas.
Octávio Augusto, o primeiro imperador (27 a.C.-14 d.C.),
preocupou-se com as obras públicas, sendo dessa época muitas das magnificas
construções que podemos ver ainda hoje em Roma. Para cuidar da segurança,
criou-se a guarda pretoriana, cuja principal função era defender o imperador e
vigiar a capital. Octávio Augusto, desejando ganhar popularidade, distribuía
trigo a população e organizava sistematicamente grandes espectáculos públicos
de circo, a chamada politica do pão e circo (panem et circences).
Durante o seu governo nasceu Jesus Cristo, em Belém de
Judá, o fundador de uma nova religião o cristianismo que pouco a pouco foi
ganhando seguidores em todo império. "o novo Augusto acumulou poder
supremo unindo atrás de múltiplas forcas de descontentamento e desintegração de
ultimo período da republica. Augusto deu lotes de terras aos milhares de
soldados desmobilizados depois das guerras civis, financiando muitos deles com
sua fortuna pessoal" (ANDERSON, Perry. Obra citada, p. 75-6).
O período do governo de Octávio Augusto e conhecido como
século de ouro da literatura latina graças ao seu ministro mecenas que, por seu
grande interesses pelas artes apoiou, entre outros escritores como Horácio e
Virgílio. Como a morte o Octávio o alto império passou por diversas
dinastias de 14 a 68, o governo coube a dinastia Júlio-Claudiana, seguida pela
dos Flávios, que perdurou ate 96, vindo em seguida dos Antónios, que governaram
ate 192. A última dinastia foi dos severos, que estiveram no poder de 193 a
235.
Os sucessores d Augusto desestruturaram o governo minando
o modo de produção escravista, factor de riqueza para o império, alem de
favorecerem o descontrolo politico com as constantes intrigas palacianas, as
crises sucessórias a imoralidade em nível não só pessoal mas também
administrativo.
De maneira geral essa situação se agravou com imperadores
Tibérios (14-37), Calígula (37-41) e Nero (54-68). Com a dinastia dos Antónios
Roma voltou a ter relativas prosperidade, pós habilidade administrativas de
imperadores como Trajano e Marco Aurélio amenizou temporariamente as
dificuldades do império. No final do período, entre tanto, delinearam-se os
contornos que poriam fim ao escravismo e ao mundo romano, processo que perdurou
do século III ao V.
O baixo-império foi marcado pela decadência, pelas
grandes crises e pela anarquia, devidas principalmente a interrupção das
conquistas o que arruinou a economia imperial baseada no trabalho escravo.
“Durante o período das conquistas, Roma viveu dos tributos que impunha aos
povos vencidos; a partir do século III, vivem a partir das suas reservas, no
século IV esgotou-as. ” (RICHE, Pierre. As
invasões barbaras. Lisboa, Publicações Europa-América, s/b. p.26.)
Merecem destaque os seguintes imperadores do
baixo-império:
- Diocleciano (284-305): na tentativa de salvar o império da falência baixou o Édito máximo, fixando preços máximos para as mercadorias e salários, sendo os infractores condenados a pena de morte. A medida não surtiu efeito, pois as mercadorias desapareceram enquanto os preços continuaram a subir descontroladamente. Outra decisão importante de Diocleciano foi a criação da tetrarquia – divisão do império entre quatro Generais buscando conseguir a paz social e o controlo político perdido.
- Constantino (313-337): através do Édito de Milão, concedeu liberdade de culto aos cristãos, já importantes em número e influência. Buscou também estabilizar a produção rural frente à escassez de mão-de-obra decretando a obrigatoriedade de fixação do colono a terra que trabalhava. Outra medida de destaque tomada por Constantino foi a fundação de uma segunda capital do Império – Constantinopla – situada no Oriente com finalidade de garantir o domínio mas amplo dos territórios conquistados.
- Teodósio (378-395): oficializou o cristianismo e, em 395, dividiu o império romano em dois: do Oriente, que tinha como capital Constantinopla e o do Ocidente, cuja capital era Roma. Ao final do seu governo, os bárbaros conseguiram-se infiltrar por todo império, que culminou nas invasões e na queda definitiva do império Ocidental, em 476, quando a tribo hérulos, chefiada por, Odoacro, derrubou o ultimo imperador romano Rómulo Augusto.
Foram diversões os factores determinantes da decadência
romana como veremos a seguir:
- O imperialismo romano e as guerras civis internas: foram responsáveis pela ampliação do aparelho militar burocrático bem como pela instabilidade política. As sucessivas lutas pelo poder geraram corrupção, descontrolo político, queda de valores tradicionais, desencadeando uma série crise moral.
- No século III impôs-se a anarquia militar: as legiões entronavam e destronavam imperadores segundo interesses imediatos (de 211-284, por exemplo, sucederam-se cerca de 20 imperadores). Os soldados que gozavam de grande prestígio apoiavam e restritamente os generais, que se apossavam, mesmo que por curtos períodos e regiões provinciais, o que contribuía acirramento da crise.
- A crise do escravismo, ocasionada pelo fim das guerras de conquistas que fez escassear o número de prisioneiros, tornou-se um obstáculo à produção, baseada fundamentalmente na escravidão. Os proprietários foram então obrigados a rendar suas terras a camponeses que sujeitavam a pagar quaisquer tributos que lhes fossem cobrados. Substituíam-se o escravismo pela servidão rural.
- O crescimento do cristianismo foi outro factor dessa agregação do império, pois se opunha à estrutura militar e escravocrata, sustentáculo do império romano.
- A crise económica, advinda da crise escravista resultou na diminuição de receitas para cobrir os gastos com a manutenção da burocracia e do exército. Ao lado disso houve uma nítida diminuição de áreas cultivadas, devido à falta de mão-de-obra, o que veio a encarecer os produtos. Ao mesmo tempo, o Estado desvalorizava a moeda, devido a diminuição de metais nobres, como ouro e prata, único meio que dispunha para saldar seus compromissos. Houve em consequência uma inflação crescente, que resultou num caos monetário, no inicio do século III, e que acelerou a decadência económica.
- A volta para uma economia rural de subsistência fez com que a população rural se isolasse em vilas auto-suficientes e autónomas, para poder enfrentar a crise geral do império.
- Finalmente as invasões bárbaras minaram as forças imperiais já agonizantes, tomando pouco a pouco seus territórios pondo o fim ao Império Romano em 476.
Cultura Roma
O código de Leis foi o mais importante legado romano as
civilizações posteriores. Divide-se Jus Naturale (Direito Natural),
compêndio de filosofia jurídica; Jus Gentium (Direito das Gentes),
compilação de Leis abrangentes isto é que não levam em conta a nacionalidade; e
Jus
Civile (Direito Civil), conjunto de leis aplicáveis aos cidadãos de
Roma.
“Nenhum sistema jurídico anterior tivera jamais a noção
de uma propriedade privada sem restrições: a propriedade na Grécia, na Pérsia
no Egipto, fora sempre ‘relativa’, ou, por outras palavras, era condicionada
por direitos superiores ou colaterais de outras partes e autoridades ou por
obrigações em relação a elas. Foi a juros prudência romana que, pela primeira
vez, emancipou propriedade privada de todo requisito ou restrição extrínsecos,
ao desenvolver a móvel distinção entre mera ‘posse’, controle factual dos bens,
e ‘propriedade’, direito pleno a eles.” (ANDERSON, Perry. Obra citada, p.71-2.)
Na literatura destacaram-se Cícero, o maior orador
romano; Virgílio, autor de “Eneida”; Tito
Lívio, autor de “Historia de Roma”, e
Ovídio, autor de “arte e amor”, entre
outros.
A arquitectura destaca-se pela grandiosidade de suas obras:
aquedutos, estradas e muralhas, que sobreviveram ao tempo.
A religião, essencialmente politeísta, era uma cópia da
grega, ajustada, porém, às condições de vida dos romanos. Suas
principais divindades foram:
- Júpiter (Zeus), principal Deus romano;
- Juno (Hera), protectora da família;
- Diana (Artêmis), deusa da caça;
- Baco (Dionísio), deus vinho;
- Vénus (Afrodite), deusa da beleza.
No final do baixo-império a decadência de Roma foi
acompanhada pelo colapso dos valores culturais, inclusive os religiosos, abrindo
espaço para ascensão do cristianismo, a religião de cunho universal,
radicalmente incompatível com as bases de sustentação do império romano, já que
condenava o militarismo e o escravismo. O império romano não s amoldou aos
valores do cristianismo, mais estava patente que surgiam novos valores para um
novo mundo - o medieval.
As Invasões Bárbaras
Para os romanos, bárbaros eram os povos que não estavam
subordinados aos impérios, que não falavam o latim que habitavam alem da
fronteira imperial; em fim, eram os “não-romanos”. Seu modo de produção era
bastante primitivo: praticavam uma economia amonetária e natural, vivendo da
caça, da pesca e, principalmente, dos despojos de guerra. Alguns povos
sobreviviam do pastoreio ou da agriculta rudimentar; a terra era, em geral
propriedade colectiva.
Principais Grupos Bárbaros
- Tártaros-mongóis: de origem asiática, empreendiam as tribos dos hunos, turcos, búlgaros, húngaros e outros etc.
- Eslavos: oriundos da Europa Oriental e da Ásia, compreendiam os russos, os polacos, tchecos, os sérvios etc.
- Germanos: de origem indo-europeia, compreendiam varias nações, como os visigodos, os ostrogodos, os hérulos, os anglos, os saxões, os francos etc.
Os bárbaros não conheciam um Estado organizado,
constituindo nações divididas em tribos. Como a maioria desconhece-se a
escrita, a vida social era orientada por leis consuetudinárias (baseadas nos
costumes) transmitidas oralmente. Sua religião era politeísta, e cultivavam-se
os ancestrais.
A partir do século I, com a expansão do império, os
contactos entre bárbaros e romanos intensificaram e profundas transformações
foram-se operando na sociedade barbara. A terra tornou-se, então, privada,
devido ao enriquecimento de algumas famílias. A desigualdade social começou
acentuar-se, surgindo uma aristocracia dedicada unicamente as actividades
bélicas e uma camada de camponeses que trabalhavam as terras. Foram as tribos
asiáticas, principalmente dos hunos dirigindo-se para o Ocidente a procura de
terras férteis pressionaram outros bárbaros a penetrar no império romano.
Estes, por temerem os hunos, contribuíram para acelerar a contracção do Império
Romano, hora aliando-se aos romanos contra as ameaças de outros grupos
bárbaros, hora tornando-se seus colonos.
A crise geral que se abatia sobre a parte Ocidental do
Império, agravada pelas constantes ameaças de invasões bárbaras, determinou
que, em 395, o imperador Teodósio definitivamente dividisse-o em dois: o
Império Romano do Ocidente, também chamado de Bizantino, que sobreviveria ate
1453; e o Império Romano do Ocidente, herdeiro absoluto das crises e das
pressões crescentes das tribos bárbaras que sucumbiria em 476.
“O mundo contemplado pelos homens do século VII e
completamente diverso daquele que haviam tido sob os olhos os homens do século
III ou IV: não mais existe o Império Romano, salvo num Oriente, e sob uma forma
que não é latina; nações novas o invadiram, encontrando-se, elas mesmo,
ameaçadas por outros povos novos mais ferozes e mais estranhos ainda; línguas,
leis, hábitos novos se impuseram. Os deuses morreram, mortos pelo Deus único,
cujos mandamentos impõem uma regra de vida tão nova que dai em diante o mundo
terreno passara para o segundo plano.”
Esse trecho, do historiador Ferdinand Lot, pode ajudá-lo
a compreender melhor as transformações que se operavam na Europa na Alta Idade
Media, dominada pelos bárbaros Germânicos e fragmentada em reinos coasse sempre
frágeis e efémeros.
A actividade mercantil, embora em fraco declinou,
manteve-se ate o século VIII, quando os árabes, invadindo a península ibérica
fecharam a mais importante via comercial Ocidental da época – o mar
Mediterrâneo. Com obstrução do mar Mediterrâneo intensificou-se o processo de
ruralização da Europa Ocidental, acentuando-se as características do feudalismo.
Ao mesmo tempo, ao lado oriental crescia sob bases inteiramente diferentes uma
sociedade rica, marcada por influências diversas – a sociedade Bizantina -, que
seria subjugada somente no século XV, por invasões de turcos otomanos.
O Império Romano do Oriente
No final da antiguidade a cidade de Constantinopla, hoje
Istambul transformou-se no principal centro económico político do que restou no
Império Romano. Edificado no mesmo local em que existira antiga colónia grega
de Bizâncio, entre os mares Egeu e Negro, o imperador Constantino a construiu,
motivado por razoes de ordem estratégica e económicas com a intenção de a
transforma-la na nova capital do império.
Com uma localização privilegiada (entre o Ocidente e
Oriente), desenvolvia um activo comercio com as cidades vizinhas, alem de
possuir uma promissória produção agrícola, o que a tornava um centro rico e
forte, em contraste com o restante Império Romano, estagnado e em crise. Após a
divisão do Império, Constantinopla passou a ser a capital da parte Oriental,
concretizando-se a completa autonomia do que restara do grande império latino.
O Império Romano do Oriente, alicerçado no poder
centralizado e despótico, caracterizou-se por um intenso desenvolvimento do
comércio, pelo meio do qual foi possível obter recursos para resistir as
invasões bárbaras. A produção agrícola por sua vez desenvolvia-se em grandes
extensões de terra, utilizando o trabalho de colonos livres e de escravos,
situação inversa da qual ocorreu com a produção rural feudal do Ocidente.
O Império Bizantino preservou muitas das instituições
latinas, como as normas políticas e administrativas e o latim, adoptada como
língua regular. Neste caso, entretanto, a preponderância cultural dos gregos
Orientais adobou por impor-se, levando o grego a ser reconhecido como língua
oficial no século VII.
Uma característica marcante da civilização Bizantina era
o papel, de imperador, que comandava o exército e a igreja, sendo considerado
representante de Deus possuindo grande poder. Era auxiliado por um número
enorme de funcionários, o que tornava a burocracia uma parte importante da
organização administrativa e social.
O mais celebre governante do império Bizantino foi
Justiniano (527-565), que ampliou as fronteiras do Império, empreendendo expedições
e chegaram a Península Itálica, á Península Ibérica e ao norte de África.
Entretanto, exceptuando a Península Itálica, as demais conquistas foram
efémeras, em virtude de aparecimento dos árabes na África e na Península
Ibérica. Como veremos, o expansionismo árabe foi rápido e vitorioso nessas
regiões a partir do século VIII.
A obra de Justiniano, num entanto e muito mais importante
no pleno interno do que externo. Entre 533 e 565, por sua iniciativa
realizou-se a compilação do direito romano, organizados em partes:
- Código (conjuntos de Leis Romanas desde o século II);
- Digesto (comentário de grandes juristas a essas Leis);
- Institutas (princípios fundamentais de direitos romanos);
- Novelas (novas leis do período de Justiniano). O conjunto desses trabalhos resultou num dos maiores legados do mundo romano: o corpo do direito civil (Corpus Juris Civilis), que sérvio de base aos códigos civis de diversas nações nos séculos seguintes. Essas Leis definiam os poderes quase ilimitados do imperador e protegiam os privilégios da igreja e dos proprietários, marginalizando a grande massa de colonos e escravos. A burocracia centralizada, os pesados impostos e gastos militares fizeram com que a politica de Justiniano acabasse encontrando séria oposição em alguns sectores populares, levando à ocorrência de revoltas, violentamente reprimidas.
No campo cultural, Justiniano distinguiu-se, ainda, pela
construção da Igreja de Santa Sofia, consolidando um estilo arquitectónico
peculiar – o Bizantino -, cuja monumentalidade simbolizava o poder do estado
associado à força da igreja cristã.
O cristianismo no Império Oriental mesclou-se com valores
culturais locais, adquirindo características próprias, muito diferente do
cristianismo Ocidental. A predominância da população grega e asiática imprimia
especificidades a religião cristã como, por exemplo, o desprezo por elementos
matérias (culto a imagens), exaltando-se unicamente a espiritualidade,
componente típico da religiosidade Oriental. Como decorrência surgira dentro da
própria igreja Oriental correntes doutrinárias – as heresias – que questionavam
os dogmas da doutrina cristã pregada pelo papa de Roma, como as dos
monofisistas e iconoclastas.
As heresias eram práticas religiosas consideradas
ofensivas à ‘verdadeira’ religião oficial, as principais heresias Bizantinas
foram:
- Monofisistas, cujos adeptos defendiam que Cristo possuía uma natureza divina espiritual, negavam o dogma ocidental da santíssima trindade (Pai, Filho e Espírito Santos), representando Deus. Esse movimento iniciou-se no século V e atingiu o seu apogeu no reinado do Justiniano.
- Iconoclastas, cujos seguidores empenhavam-se em destruir imagens (ícones), facto que reflectia a forte espiritualidade da religião cristã Oriental. No iniciou do século VIII, buscando conter a força clero e se opor ao ocidente cristão, decretou ser proibido o uso de imagens de Deus, de Cristo ou de santos nos templos, obtendo forte apoio popular.
A agitação popular provocada pelas heresias levou os
imperadores Bizantinos a adoptarem uma constante política de intervenção nos
assuntos eclesiásticos, caracterizando o que se denomina César o papismo: a
supremacia do imperador sobre a igreja.
As profundas divergências entre o cristianismo ocidental,
orientado pelo papa, e o cristianismo peculiar do Oriente, cujo maior expoente
era o patriarca, culminaram com o rompimento da igreja bizantina com a Igreja
de Roma.
Esses movimentos acabaram por consumar, em 1504, o Cisma
do Oriente, quando o patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário, proclamou a
autonomia total a igreja oriental, acusando o papado de distanciar-se das
pregações originais do Cristo e de seus apóstolos. Com a cisão surgiram duas
Igrejas: Ortodoxa, subordinada ao patriarcado de Constantinopla, e a Igreja
Católica Apostólica Romana dirigida pelo papado.
Após o auge do governo de Justiniano o Império Bizantino
entra em lenta decadência. Essencialmente urbana, apoiada num poderoso
comércio, a sociedade bizantina começa a sofrer, a partir do século X,
crescentes pressões desagregadoras. Com a retomada das actividades comercias no
Ocidente Bizância foi alvo da ambição das cidades italianas, como Veneza, que a
subjugou, transformando-a num entreposto comercial sob exploração italiana.
Mesmo antes disso, o Império Bizantino já vinha perdendo territórios, sofrendo
o cerco progressivo, ora dos bárbaros, ora dos árabes, em expansão nos séculos
VII e VIII.
A partir do século VIII, as dificuldades do Império se
multiplicaram, já não existido um Estado suficientemente forte e rico para
enfrentar as constantes incursões estrangeiras. No final da Idade Média, por
sua posição estrangeira, foi o ponto mais ambicionado pelos turcos otomanos,
que em 1453 finalmente atingiram seus objectivos, derrubando as muralhas de
Bizâncio e pondo fim à existência do Império Romano do Oriente, o Império
Bizantino. A queda de Constantinopla serviria como marco para o fim do mundo
medieval ocidental e o inicio da Idade Moderna.
O Sacro Império Romano-Germânico
As monarquias nacionais da Alemanha e da Itália não se
desenvolveram se não muito depois do fim da Idade Média. Os constantes
conflitos entre os imperadores do sacro Império os papas acabaram por
comprometer a unidade da Alemanha e da Itália, mantendo essas duas regiões
divididas em numerosos Estados, alguns deles extremamente pequenos.
A luta entre o papado e o Império manifestou-se
decisivamente durante o pontificado de Gregório VII (1073-1085), quando teve
inicio a Querela das Investiduras.
No sacro Império, o clero estava submisso aos soberanos,
que nomeavam – investiam – os bispos ou exerciam dura pressão para impor
candidatos da sua escolha, muitas vezes pessoas corruptas, indignas, do cargo
que ocupavam.
Contra a corrupção e
a decadência do clero, surgiram diversos movimentos dentro da própria Igreja. Um dos mais importantes
movimentos reformistas dessa época foi liderado pela ordem de Cluny, fundada em
910, na Borgonha. O movimento de Cluny adquiriu grande força no século XI
difundindo-se por toda a Europa, e um dos seus maiores expoentes foi o papa
Gregório VII. Outras ordens monásticas surgiram no século XI, como a Ordem dos
Cartuxos (1084) e a Ordem de Cister (1098). A Igreja se reerguia por toda parte construíam-se grandes igrejas
monásticas; os fiéis, entusiasmados, lançavam-se no final desse século, à
aventura das Cruzadas.
O papa Gregório VII, antigo monge da Ordem de Cluny,
devotado à reforma espiritual do clero, logo após sua eleição afirmou a
independência da Igreja da interferência imperial. Não apenas condenou as
investiduras realizadas por leigos, como decretou a queda de todos os clérigos
que houvessem obtido seus cargos em troca de dinheiro, proclamando ainda a
autoridade absoluta do papado sobre a Igreja e os fiéis.
Sua atitude provocou profundas reacções por parte de
Henrique IV, na época imperador do sacro império que se recusou acatar os
decretos papais. Gregório ameaçou excomungá-lo e o monarca reagiu tentando
destituir o papa, mais enfrentou a oposição dos nobres alemães que, desejando
enfraquecer a autoridade imperial, se aliaram a Gregório. Enfraquecido
politicamente, Henrique viu-se abrigado a pedir perdão ao papa, empreendendo em
1077 uma peregrinação a Canossa, pequena cidade do norte da Itália.
Posteriormente, já suspensa a excomunhão, Henrique IV
reiniciou sua defensiva contra o papa, destruindo-o e obrigando-o a fugir de
Roma.
A luta entre o papado e Sacro Império foi interrompida
temporariamente com a assinatura da concordata de Worms, um acordo afirmado em
1122, que estabelecia limites aos poderes de Henrique V, então imperador do
Sacro Império. Entretanto, não demorou muito para que disputa entre os poderes
secular e espiritual reiniciasse.
Durante os séculos VII e VIII, novos conflitos envolveram
imperadores e papas, reacendendo a Querela das Investiduras, que na verdade se
tornara uma acirrada luta pela dominação do mundo ocidental.
O pontificado de Inocêncio III (1198-1216) marcou o
apogeu do poder papal na Idade Média. Nessa época, a Igreja Tornara-se uma
espécie de “monarquia” em que o papa assumia as funções de soberano
interferindo profundamente nas questões políticas do ocidente.
Em sua obsessão pelo poder, os papas passaram a intervir
sistematicamente em assuntos de política e economia acabando por enfrentar a
resistência da realeza, cujo poder se fortalecia. Após o conflito entre monarca
francês Filipe, o Belo, e o papa Bonifácio VIII, que resultou no cativeiro da
babilónia (1307-1377), os soberanos europeus não mas admitiram a interferência
do papado nas questões temporais de suas monarquias.
Os imperadores germânicos ambicionando expandir os
domínios do Sacro Império, realizaram frequentes intervenções na Itália
especialmente no âmbito da igreja. Preocupados em dominar a Itália e absorvidos
em disputas com os papas, os monarcas alemães tornaram-se negligentes, não
conseguindo submeter os nobres de seu país a autoridade imperial.
Após 1250, Alemanha se assemelhava a um mosaico de
centenas de Estados praticamente autónomos, sobre os quais a influência do
imperador tornou-se bastante limitada, predominando os príncipes locais
(nobres).
Do mesmo modo, também a Itália achava-se dividida em uma
infinidade de Estados, alguns muito pequenos, como as cidades-Estado do norte,
que haviam conseguido se libertar da dominação do Sacro Império. Essas cidades,
enriquecidas pela actividade mercantil, contratavam grupos de soldados
mercenários, comandados por chefes chamados condottieri,
para assegurar a sua defesa ou conquistar as cidades rivais. Alguns destes condottieri tornaram-se extremamente
poderosos, como os da família Visconti, que acabou assumindo o governo de Milão
em 1310, e os da família Sforza, que sucedeu a primeira em 1450.
Envolvidas em constantes guerras contra suas rivais, as
cidades mais poderosa foram lentamente submetendo suas vizinhas. Assim, em
meados do século XV, destacavam-se cinco grandes Estados na Itália: a Republica
de Veneza, governada por um doge (duque) e por um conselho; a Republica de
Florença, dominada pelos Médicis, influente família de banqueiros; o Ducado de
Milão, governado pelos condottieri da família Sforza; os Estados Pontifícios,
ou Estado da Igreja; o Reino de Nápoles governado por um parente do rei
Fernando de Aragão.
Tanto Alemanha quanto a Itália; durante Baixa Idade
Média, não alcançaram o processo de centralização monárquica permanecendo
divididas até o século XIX.
Bibliografia
VICENTINO, Cláudio. História
geral. Editora Scipione, São Paulo, 1991.